Com crise no MEC, Milton Ribeiro pede exoneração do Ministério da Educação
Saída dele é tentativa de blindar o presidente Jair Bolsonaro (PL) e impedir que crise que atingiu a Pasta respingue ainda mais no Palácio do Planalto.
Após um escândalo envolvendo pastores, direcionamento de verbas públicas e até pedidos de propina, Milton Ribeiro pediu exoneração do cargo de Ministro da Educação (MEC) na tarde desta segunda-feira, 28. A saída dele é uma tentativa de blindar o presidente Jair Bolsonaro (PL) e impedir que a crise que atingiu o MEC respingue ainda mais no Palácio do Planalto. A exoneração já foi publicada no Diário Oficial da União.
Pra se ter ideia, Milton Ribeiro já era alvo de inquérito na Polícia Federal (PF) e no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele, inclusive, já tinha oitiva marcada para a próxima quinta-feira, 31 de março, na Comissão de Educação do Senado. O agora ex-ministro também vinha enfrentando pressão para sair por parte de lideranças evangélicas – ele é pastor da igreja presbiteriana.
Ribeiro foi comunicar sua saída pessoalmente ao presidente Bolsonaro. Na carta que levou ao ex-chefe, escreveu que sua vida “sofreu uma grande transformação” desde a divulgação de reportagem que o implicava em um esquema de favorecimento a pastores dentro do MEC.
O ex-ministro afirmou ainda ter decidido “solicitar ao Presidente Bolsonaro a minha exoneração do cargo, com a finalidade de que não paire nenhuma incerteza sobre a minha conduta e a do Governo Federal”. E mais, que deve retornar à Pasta: “Depois de demonstrada minha inocência estarei de volta, para ajudar meu país e o Presidente Bolsonaro na sua difícil mas vitoriosa caminhada.”
Entenda os escândalos do MEC:
Em um áudio obtido pelo jornal “Folha de S.Paulo” e em reportagens do “O Estado de S. Paulo”, Ribeiro é envolvido no que seria um esquema de favorecimento a pastores na pasta.
Em uma conversa gravada, o ministro afirma que recebeu um pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL) para que a liberação de verbas da pasta fosse direcionada para prefeituras específicas a partir da negociação feita por dois pastores evangélicos que não possuem cargos no governo federal.
Na gravação, Ribeiro diz que se trata de “um pedido especial do presidente da República”. “Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar”, diz o ministro na conversa com prefeitos e outros dois pastores, segundo o jornal.
“Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”,
diz Milton Ribeiro na conversa gravada
Os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura são os citados nos áudios. Segundo o jornal, os dois religiosos têm negociado com prefeituras a liberação de recursos federais para obras em creches, escolas e compra de equipamentos de tecnologia.
Na conversa vazada, o ministro de Bolsonaro indica que, com a liberação de recursos, pode haver uma contrapartida. “O apoio que a gente pede não é segredo, isso pode ser [inaudível] é apoio sobre construção de igrejas”. Nos áudios, não fica claro a forma como esse apoio se daria.
No ano passado, para poupar as emendas parlamentares de um corte maior, o governo promoveu um bloqueio de R$ 9,2 bilhões de despesas de ministérios e estatais que atinge principalmente a Educação.
Na semana passada, Ribeiro negou que tenha favorecido pastores.
Mas neste final de semana veio à tona a denúncia de distribuição de Bíblias estampadas com fotos do então ministro da Educação, Milton Ribeiro, e dos pastores Gilmar Santos e Arilton Noura, durante um evento do MEC em Salinópolis (PA), no ano passado. As Bíblias teriam sido impressas por meio da editora Igreja Ministério Cristo para Todos, igreja ligada ao pastor Gilmar Santos.
Veja a carta de renúncia na íntegra:
Desde o dia 21 de março minha vida sofreu uma grande transformação. A partir de notícias veiculadas na mídia foram levantadas suspeitas acerca da conduta de pessoas que possuíam proximidade com o Ministro da Educação.
Tenho plena convicção que jamais realizei um único ato de gestão na minha pasta que não fosse pautado pela correção, pela probidade e pelo compromisso com o erário. As suspeitas de que uma pessoa, próxima a mim, poderia estar cometendo atos irregulares devem ser investigadas com profundidade.
Eu mesmo, quando tive conhecimento de denúncia acerca desta pessoa, em agosto de 2021, encaminhei expediente a CGU para que a Controladoria pudesse apurar a situação narrada em duas denúncias recebidas em meu gabinete. Mais recentemente, em ___, solicitei a CGU que audite as liberações de recursos de obras do FNDE, para que não haja dúvida sobre a lisura dos processos conduzidos bem como da ausência de poder decisório do ministro neste tipo de atividade.
Tenho três pilares que me guiam: Minha honra, minha família e meu país. Além disso tenho todo respeito e gratidão ao Presidente Bolsonaro, que me deu a oportunidade de ser Ministro da Educação do Brasil.
Assim sendo, e levando-se em consideração os aspectos já citados, decidi solicitar ao Presidente Bolsonaro a minha exoneração do cargo, com a finalidade de que não paire nenhuma incerteza sobre a minha conduta e a do Governo Federal, que vem transformando este país por meio do compromisso firme da luta contra a corrupção.
Não quero deixar uma objeção sequer quanto ao meu comportamento, que sempre se baseou em pilares inquebrantáveis de honra, família e pátria. Meu afastamento do cargo de Ministro, a partir da minha exoneração, visa também deixar claro que quero, mais que ninguém, uma investigação completa e longe de qualquer dúvida acerca de tentativas deste Ministro de Estado de interferir nas investigações.
Tomo esta iniciativa com o coração partido, de um inocente que quer mostrar a todo o custo a verdade das coisas, porém que sabe que a verdade requer tempo. Sei de minha responsabilidade política, que muito se difere da jurídica. Meu afastamento é única e exclusivamente decorrente de minha responsabilidade política, que exige de mim um senso de país maior que quaisquer sentimentos pessoais.
Assim sendo, não me despedirei, direi um até breve, pois depois de demonstrada minha inocência estarei de volta, para ajudar meu país e o Presidente Bolsonaro na sua difícil mas vitoriosa caminhada.
Brasil acima de tudo!!! Deus acima de todos!!!
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