Escândalo no MEC: evento do ministério distribuiu Bíblias com foto de pastores e ministro da Educação
Na próxima quinta-feira, 31, Milton Ribeiro terá de dar explicação na Comissão de Educação do Senado
Um evento organizado pelo Ministério da Educação (MEC), em Salinópolis (PA), no ano passado, contou com a distribuição de Bíblias estampadas com fotos do ministro da Educação, Milton Ribeiro, e dos pastores Gilmar Santos e Arilton Noura. Os dois pastores são citados num possível esquema de tráfico de influência envolvendo a destinação de recursos do MEC. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
O evento aconteceu em 3 de julho, e reuniu prefeitos e secretários municipais de educação do Pará. Milton Ribeiro e os dois pastores também estavam presentes, assim como o presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Marcelo Ponte. As Bíblias teriam sido impressas por meio da editora Igreja Ministério Cristo para Todos, igreja ligada ao pastor Gilmar Santos. Oficialmente, Santos consta como sócio-administrador da editora. Em março deste ano, o pastor registrou em seu nome mais uma editora e uma faculdade. Juntas, as duas empresas têm capital social informado de R$ 450 mil.
O prefeito de Salinópolis, que também tem fotos pulicadas na Bíblia, teria sido o responsável por financiar a publicação ao custo de R$ 70 por exemplar. Após o encontro em Salinópolis, Milton Ribeiro firmou um termo de compromisso para a construção de uma escola na cidade no valor de R$ 5,8 milhões. Desse valor, R$ 200 mil já foram empenhados pelo MEC em dezembro do ano passado.
Entenda o escândalo no Ministério da Educação
Ao cumprir um “pedido especial do presidente da República” — como disse —, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, se envolveu no que pode ser um grande escândalo de corrupção do governo de Jair Bolsonaro (PL): a denúncia é de que pastores tinham atendimento preferencial na liberação de verbas da pasta para prefeituras. O caso virou alvo de investigação da Polícia Federal e, nesta semana, Ribeiro terá de dar explicação na Comissão de Educação do Senado. A oitiva está marcada para quinta-feira, 31 de março.
Conforme as denúncias, dois pastores evangélicos, Arilton Moura e Gilmar Santos, teriam nas mãos o controle sobre as verbas destinadas a prefeituras via Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Contudo, para que os repasses fossem feitos, ambos cobravam “apoio” nas construções de igrejas e exigiriam propinas, entre R$ 15 mil e R$ 40 mil. Até 1kg de ouro teria sido negociado para que as verbas chegassem nas mãos dos prefeitos.
Ribeiro admitiu ter tomado ciência do esquema em 2020, mas somente há cerca de um ano — segundo afirma — reportou o caso à Controladoria-Geral da União. O órgão, por sua vez, só acionou a Polícia Federal e ao Ministério Público Federal (MPF) após as denúncias da imprensa — o Estadão revelou a existência desse “gabinete paralelo” de evangélicos, e a Folha de S.Paulo obteve áudio no qual Ribeiro diz que seguia ordens de Bolsonaro.
De acordo com registros do Ministério da Educação, pelo menos 44 prefeitos foram recebidos por Milton Ribeiro em reuniões acompanhadas pelos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos. Em 15 meses, foram ao menos 19 registros públicos da agenda de Ribeiro em que constava a presença da dupla de religiosos.
A movimentação ocorria, principalmente, por meio do FNDE, detentor de uma das maiores fatias do orçamento do ministério. Entre 2019 e 2021, o Fundo, ligado à pasta, recebeu mais de R$ 50 bilhões por ano para a construção de creches e escolas, aquisição de ônibus escolares, construção ou reformas de quadras esportivas em escolas, compras de material didático, entre outros. A proposta para a realização dessas atividades é feita pelas prefeituras anualmente, dentro das condições que o MEC exige. As medidas foram aperfeiçoadas, nos últimos anos, na tentativa de evitar fraudes.
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