Eleições 2024: Representatividade feminina Entorno do DF é baixa
Nos próximos quatro anos, a maioria dos municípios da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride) será governada por homens, segundo reportagem do site Correio Braziliense. Das 33 cidades ao redor do DF, apenas quatro terão prefeitas: Virgínia Castro (PP), em Água Fria; Simone Ribeiro (PL), em Formosa; Jéssica do Premium (União), em Santo Antônio do Descoberto; e Dona Dete (União), em Simolândia. Exceto por Dona Dete, que foi reeleita, as outras três são as primeiras mulheres a ocupar o cargo executivo em suas respectivas cidades, que até então sempre tiveram líderes masculinos. A presença feminina também foi limitada nas câmaras municipais (veja detalhes abaixo). Especialistas consultados pelo Correio discutiram a baixa representatividade feminina e a ascensão da direita nos municípios da Ride.
Para a cientista política Camila Santos, a ausência de mulheres em cargos de liderança no Entorno afeta diretamente a criação de políticas públicas, o que impacta tanto a vida dessas cidades quanto a do Distrito Federal. “Questões importantes para o público feminino, como políticas de combate ao assédio e temas como o aborto, muitas vezes não recebem a devida atenção porque a maioria dos eleitos são homens, que tendem a priorizar outras agendas”, explicou. “Além disso, a falta de representatividade pode desestimular novas candidaturas femininas, pois muitas mulheres não se sentem representadas e não veem a política como um ambiente acessível ou acolhedor”, acrescentou.
Camila também destacou a importância de combater a violência partidária contra mulheres na política, um ambiente historicamente dominado por homens. “É fundamental criar um espaço seguro e inclusivo para que as mulheres possam participar plenamente. Promover candidaturas femininas não é apenas uma questão de equidade, mas também de melhorar a qualidade das políticas públicas que beneficiem toda a sociedade”, afirmou.
Desafios para a Representatividade Feminina
A legislação determina que 30% das candidaturas devem ser femininas e que elas recebam a mesma porcentagem de recursos do fundo eleitoral e partidário. No entanto, um levantamento do Observatório Nacional da Mulher na Política revelou que essa cota não foi cumprida em 700 dos 5.569 municípios brasileiros no primeiro turno das últimas eleições municipais. “Infelizmente, muitas mulheres são usadas como candidaturas ‘laranja’, registradas apenas para cumprir a cota de gênero, sem chances reais de competição”, lamentou Luka Borges, especialista em mobilização digital. “Vivemos em uma cultura fortemente machista que desqualifica as candidatas e descumpre regras básicas”, completou.
Segundo um censo realizado pelo Instituto Alziras, que analisou as prefeitas eleitas no último pleito, as mulheres costumam acumular responsabilidades políticas e familiares, como o cuidado com crianças e idosos, além das tarefas domésticas. “Essa estrutura patriarcal reforça o papel de cuidadoras das mulheres, o que dificulta sua plena participação na política”, destacou Luka.
De modo geral, a presença feminina nos Executivos municipais foi baixa. Nenhuma das capitais brasileiras elegeu uma prefeita no primeiro turno das eleições, e a única mulher com chances no segundo turno era candidata em Palmas. “No Entorno do DF, a direita prevaleceu e as mulheres continuam sub-representadas. Culturalmente, as mulheres foram ensinadas a não se envolverem na política, o que ainda se reflete no comportamento de muitas eleitoras”, analisou o cientista político Rócio Barreto.
Perfis das Prefeitas Eleitas
Dona Dete (União), Simolândia:
Reeleita com 54,63% dos votos (2.663 no total), Dona Dete, de 63 anos, vai para seu segundo mandato à frente de Simolândia. Viúva e com o ensino fundamental completo, ela agradeceu o apoio da população e ressaltou a importância de parcerias com o governo estadual e deputados para o desenvolvimento da cidade.
Jéssica do Premium (União), Santo Antônio do Descoberto:
Jéssica Aparecida Ribeiro Gomes, de 33 anos, foi eleita com 53,28% dos votos (18.230 no total), sendo a primeira mulher a comandar Santo Antônio do Descoberto. Proprietária de uma rede de supermercados, ela destacou a importância de parcerias com o governo do DF e pretende focar em programas de capacitação e inserção no mercado de trabalho para mulheres vítimas de violência doméstica. Além disso, quer implementar um centro de tratamento para famílias com necessidades especiais.
Simone Ribeiro (PL), Formosa:
Simone Ribeiro, de 45 anos, foi eleita com 41,44% dos votos (23.319 no total), tornando-se a primeira mulher negra a liderar a prefeitura de Formosa. Psicóloga de formação, ela pretende focar em projetos voltados para a saúde mental, educação, segurança e empreendedorismo, com apoio de políticos influentes, como a deputada Bia Kicis e o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Virgínia Castro (PP), Água Fria:
Virgínia Castro, de 46 anos, venceu com 57% dos votos (2.524 no total) e será a primeira mulher a chefiar a prefeitura de Água Fria. Com experiência como gestora de assistência social, ela destacou a importância de diálogo com as autoridades do DF e se comprometeu a melhorar a educação infantil, as estradas e apoiar pequenos produtores rurais.
Vereadoras Eleitas
– Água Fria: 9 vereadores, 1 mulher
– Formosa: 17 vereadores, 2 mulheres
– Santo Antônio do Descoberto: 20 vereadores, 5 mulheres
– Simolândia: 9 vereadores, nenhuma mulher
Fonte: Correio Braziliense
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