Guerra pode afetar custos de produção em Goiás; estado tem forte comércio com Rússia e Ucrânia

Por aqui há preocupação com aumento nos custos de produção e com oferta de insumos

Já se sabe que a guerra entre Rússia e Ucrânia promete diversos impactos na economia mundial. Em Goiás, pela relação comercial com os dois países, há preocupação com aumento nos custos de produção e com a oferta de insumos, especialmente para o agronegócio e as indústrias que importam do Leste Europeu. Vem de lá grande parte dos fertilizantes utilizados no campo e até matérias-primas para medicamentos. Goiás tem forte comércio com Rússia e Ucrânia.

Na balança comercial de 2021, as importações goianas vindas da Rússia têm maior peso, somaram US$ 305,069 milhões, com destaque para os fertilizantes químicos e minerais. De outro lado, Goiás exportou para o País US$ 81,433 milhões, com destaque para as carnes. No caso da Ucrânia, o saldo da balança é positivo, há maior venda do que compra de produtos, R$ 25,733 milhões exportados e US$ 12,238 mil importado.

“De tudo que exportamos, 5% é para a Rússia. Frango em pedaços, café, açúcar, carne bovina”, pontua o secretário de Indústria, Comércio e Serviços do Estado, Joel Sant’Anna Braga Filho. Ele diz que há insegurança, mas ocorrem tratativas nas relações diplomáticas e as traders ainda mantêm o fluxo do comércio “até segunda ordem”. “Há grande preocupação com a economia e com as vidas humanas.”

Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, neste primeiro momento não há risco de desabastecimento no caso de insumos essenciais para as produções na agricultura e nas indústrias. Para o coordenador institucional do Instituto para Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Leonardo Machado, o primeiro impacto para o mercado local virá pelo aumento do dólar, que também impacta as importações.

A alta das commodities é outro ponto que é acompanhado com cautela, porque o preço ainda mais elevado de milho e soja interferem nos custos da ração de animais, por exemplo.

“Para o futuro, a preocupação é a questão de que a Rússia é importante fornecedor de fertilizantes. Para a agricultura, três elementos são essenciais, nitrogênio, potássio e fósforo, que importamos em larga escala e impactam as lavouras no geral.”

Leonardo Machado, coordenador do Ifag – Faeg

Porém, esses reflexos dos insumos serão para a próxima safra. Atualmente, flutuações de custos como o do barril de petróleo preocupam mais. Leonardo reforça que a alta dos combustíveis é um ponto preocupante para a logística brasileira. “No momento, temos de observar os impactos no curto prazo, fazer contas. Acendeu um sinal de alerta amarelo para o setor. Não há desespero, mas gera atenção.”

Presidente em exercício da Federação das Indústrias de Goiás (Fieg), André Rocha avalia que para as indústrias o que mais preocupa vai além da balança comercial, é o impacto nos custos e possível desestruturação de cadeias já afetadas com a pandemia de Covid-19. “A primeira coisa é o aumento de custo, depois a preocupação é com a falta de produtos. A incerteza causa insegurança para os investimentos. A alta de juros afugenta também os investidores”, diz sobre mecanismo utilizado para conter a inflação.

Aumento nos medicamentos já é esperado, como informa o presidente do Sindicato das Indústrias Farmacêuticas (Sindifargo), Marcelo Perillo. “A guerra afeta a logística e flutuação das moedas e commodities. Isso vai impactar no preço, que já tem aumentado bastante e acompanha a cotação do dólar. Não há desabastecimento.”

Alta na gasolina
O aumento generalizado de preços de diversos produtos afeta o orçamento das famílias goianas com mais força desde o ano passado. Agora, com a guerra na Ucrânia, novas pressões devem ocorrer. Líder de operação da área internacional da Blue 3, Fernando Bueno explica que o efeito imediato do conflito virá no petróleo, o que deve ser sentido pelos consumidores mais rapidamente, porque a Rússia é uma grande produtora.

Já os efeitos do dólar o especialista acredita que não deve ser tão imediato, porque vinha de queda desde o início do ano. Mas, se a crise se estender, é esperado que a alta da moeda possa pressionar a inflação desde os alimentos até os equipamentos eletrônicos, carros, que têm o custo relacionado com a moeda estrangeira. “Neste momento, pressiona principalmente combustíveis, fertilizantes, que é matriz do agronegócio, forte no Brasil. Os agricultores já sentiam o aumento dos fertilizantes pelo dólar, pela pandemia de Covid-19 e, agora, nova pressão.” Já do ponto de vista das empresas, Fernando avalia que é percebido retração econômica que leva a maior cautela para os investimentos e reserva de caixa mais forte. “Isso pode enxugar dinheiro do mercado e tem, por outro lado, a pressão inflacionária que persiste desde o início da pandemia de Covid-19.”

Os fatores têm indicado, como ressalta, para um processo inflacionário em todo o mundo com aumento das taxas de juros. Diferente do cenário em que o Brasil conseguiu segurar a alta da Selic, agora há ambiente que deixa de ser propício aos grandes movimentos de empresas do agronegócio goiano, por exemplo, que realizaram IPOs em 2021.

Com informações do jornal O Popular e da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg)

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