OMS: surtos de doenças preveníveis ameaçam progresso na vacinação

A Organização Mundial da Saúde (OMS), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Aliança Mundial para Vacinas e Imunização (Gavi) emitiram, nesta quinta-feira (24), um alerta preocupante: os programas de imunização em todo o mundo estão sob ameaça, colocando milhões de crianças, adolescentes e adultos em risco. O comunicado foi feito em razão da Semana Mundial de Imunização.

As entidades apontam que a combinação de desinformação, crises humanitárias, aumento populacional e cortes de financiamento tem comprometido os avanços obtidos nas últimas décadas na redução da mortalidade infantil. Segundo elas, doenças preveníveis por vacinas, como sarampo, meningite e febre amarela, estão ressurgindo em várias regiões do mundo.

“As vacinas salvaram mais de 150 milhões de vidas nos últimos 50 anos — mais de 4 milhões por ano. Com imunização para todos, tudo é possível”, destacou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em publicação nas redes sociais. Ele ainda alertou que os recentes cortes em financiamento para a saúde global ameaçam conquistas duramente alcançadas.

Surto de sarampo cresce pelo mundo

A situação do sarampo é considerada “especialmente preocupante” pela OMS. A cobertura vacinal caiu em diversos países desde a pandemia de covid-19, e os casos da doença ultrapassaram a marca de 10 milhões em 2023, um crescimento de 20% em relação a 2022.

Nos últimos 12 meses, 138 países registraram infecções por sarampo, sendo que 61 enfrentaram surtos de grande escala — o maior número desde 2019. A tendência, segundo as agências, é de alta contínua em 2024 e 2025.

Meningite avança na África

Outro foco de preocupação é a meningite, cujo número de casos teve crescimento expressivo em 2024. Apenas nos três primeiros meses do ano, mais de 5.500 casos suspeitos e quase 300 mortes foram relatados em 22 países africanos. Em 2023, o continente havia registrado 26 mil casos e 1,4 mil mortes.

Febre amarela volta a preocupar

A febre amarela também voltou a ganhar força. Em 2024, 124 casos foram confirmados em 12 países africanos, após uma década de queda sustentada graças à vacinação. Nas Américas, ao menos 131 casos foram registrados neste ano em quatro países, entre eles o Brasil.

Redução no financiamento afeta campanhas

O alerta das agências internacionais ocorre em meio a uma grave crise de financiamento da saúde global. Levantamento feito pela OMS em 108 escritórios nacionais, sobretudo em países de baixa e média renda, revelou que quase metade enfrenta interrupções moderadas ou severas em campanhas de imunização, vacinação de rotina e abastecimento de insumos.

A vigilância de doenças — inclusive das preveníveis por vacinas — também está comprometida em mais da metade dos países analisados.

Cresce o número de crianças não vacinadas

Os dados mostram que 14,5 milhões de crianças não receberam todas as vacinas de rotina em 2023 — número superior aos 13,9 milhões de 2022 e aos 12,9 milhões de 2019. Mais da metade dessas crianças vivem em regiões afetadas por conflitos, instabilidade ou fragilidade institucional, o que dificulta o acesso à saúde básica.

“A crise de financiamento está comprometendo nossa capacidade de vacinar mais de 15 milhões de crianças vulneráveis contra o sarampo”, alertou a diretora executiva do Unicef, Catherine Russell.
“Já estamos vendo retrocessos em quase 50 países, comparáveis aos níveis observados durante a pandemia. Não podemos perder terreno na luta contra doenças evitáveis”, completou.

As três organizações pedem ação política urgente e sustentada, além de investimentos imediatos para proteger os avanços obtidos nas últimas décadas e garantir a ampliação da cobertura vacinal global.

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