Criança com microcefalia causada por Zika tem mais risco de internação
A epidemia de Zika que afetou o Brasil em 2015 resultou em um aumento significativo no número de bebês nascendo com microcefalia, uma condição que envolve a redução do tamanho da cabeça e está associada a riscos elevados de internações hospitalares e tempos de permanência mais longos nas unidades de saúde. Um estudo realizado pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde da Fiocruz, publicado na revista International Journal of Infectious Disease, revelou que as crianças afetadas pela síndrome congênita do Zika (SCZ) apresentam taxas de hospitalização de três a sete vezes superiores às de crianças sem a condição. Além disso, esses bebês ficam internados por períodos significativamente mais longos.
O estudo analisou dados de 2 mil crianças com SCZ e 2,6 milhões de crianças sem a síndrome, comparando taxas de hospitalização, principais motivos e tempo de internação durante os primeiros quatro anos de vida. Enquanto as crianças sem a síndrome tiveram uma diminuição progressiva nas hospitalizações ao longo do tempo, as com microcefalia mantiveram altas taxas de internação durante todo o período estudado.
O médico responsável pela pesquisa, João Guilherme Tedde, apontou que as crianças com microcefalia enfrentam um risco aumentado de doenças combinadas, como infecções e doenças respiratórias, além de complicações diretamente relacionadas à SCZ, criando um ciclo vicioso. O estudo também indicou que a maioria das crianças que nasceram com a síndrome não sobreviveu ao primeiro ano de vida, com cerca de 20 mil casos suspeitos de Zika no Brasil.
Além dos atrasos no desenvolvimento e complicações como convulsões e dificuldades motoras, as crianças com SCZ enfrentam um risco 30 vezes maior de morte por doenças respiratórias, 28 vezes maior para doenças infecciosas e 57 vezes maior para doenças do sistema nervoso.
A pesquisa destacou que grande parte das vítimas do vírus Zika eram de famílias de baixa renda, especialmente do Nordeste, que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) e de programas de transferência de renda. Os pesquisadores apontam a necessidade de elaborar planos de cuidado estruturados, com foco no manejo ambulatorial dessas crianças.
A Fiocruz também ressaltou a urgência no desenvolvimento de uma vacina contra o Zika. Instituições como a Universidade de São Paulo (USP) e o Instituto Butantan estão conduzindo pesquisas nesse sentido, enquanto o Ministério da Saúde intensificou as ações de combate a arboviroses, incluindo o Zika.
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