Devido à pandemia de covid-19, muitas pessoas passaram a enfrentar diversos efeitos colaterais da doença, incluindo a perda do sentido do olfato. Estudos indicam que, somente nos Estados Unidos em 2021, mais de 20 milhões de indivíduos experimentaram a perda do olfato ou paladar. Entre essas pessoas, cerca de 5 milhões tiveram uma recuperação parcial ou nenhuma recuperação de seus sentidos.

Embora algumas intervenções médicas, como o uso de medicamentos antivirais ou treinamento olfativo, possam contribuir para a recuperação, nem todos respondem positivamente a esses métodos. Diante dessa realidade, os pesquisadores têm se empenhado no desenvolvimento de novos tratamentos para lidar com essas sequelas.

Retomando o olfato

No contexto da perda de olfato em pacientes com covid-19, cientistas conceberam um novo procedimento médico não invasivo que consiste na aplicação de uma injeção no pescoço. Denominado “bloqueio no gânglio estrelado”, esse método envolve a injeção de um coquetel anestésico em um aglomerado de nervos pertencentes ao sistema nervoso autônomo, responsável por controlar funções corporais involuntárias, como a frequência cardíaca e o suor.

Os pesquisadores da Jefferson Health, nos Estados Unidos, testaram essa abordagem em 37 pessoas com parosmia (perda de olfato devido à covid-19). Dentre elas, 22 relataram a recuperação do olfato normal após uma semana da injeção, sendo que 18 dessas 22 pessoas experimentaram uma melhora ainda mais significativa dentro de um mês. Após três meses, houve uma melhora média de 49% em todos os pacientes.

Esses resultados foram apresentados durante a reunião anual da Sociedade Radiológica da América do Norte. Em comunicado à imprensa, Adam Zoga, autor do estudo e professor de radiologia musculoesquelética na Jefferson Health, enfatizou os dados positivos, incluindo a resolução quase completa da fantosmia (presença de cheiro inexistente) em alguns participantes.

Perda de olfato na covid-19

A perda ou alteração do olfato também pode ocorrer em outras infecções virais, como um resfriado comum, mas geralmente é resolvida rapidamente. No caso da covid-19, os cientistas ainda não compreendem totalmente por que essa condição persiste mesmo após a infecção ter desaparecido. Algumas teorias sugerem que a inflamação contínua no nariz pode ser a causa, reduzindo o número de neurônios sensoriais olfativos ou reconectando-os geneticamente, impedindo que os sinais olfativos alcancem o cérebro.

A injeção de um coquetel anestésico em pacientes com covid-19 já mostrou sucesso em aliviar problemas de olfato associados à covid prolongada em testes de pequena escala. Este novo estudo representa o maior ensaio realizado até agora, utilizando tomografia computadorizada ou ultrassom para guiar a injeção no gânglio estrelado na base do pescoço. Devido à delicadeza do procedimento e à presença de grandes vasos sanguíneos vitais para o cérebro, é crucial realizar essa intervenção com precisão e cuidado.

Além de tratar a perda de olfato relacionada à covid-19, o bloqueio do gânglio estrelado também tem sido empregado no tratamento de outras condições, como dores de cabeça crônicas, dor do membro fantasma e até arritmias cardíacas, demonstrando sua versatilidade terapêutica. O coquetel anestésico utilizado inclui uma pequena dose de corticosteroide para combater qualquer inflamação nos nervos causada por vestígios de coronavírus persistentes.