Uso de mídias sociais aumenta o risco de transtornos alimentares, aponta estudo
Os transtornos alimentares representam um conjunto de condições psiquiátricas diversificadas, debilitantes e potencialmente letais, com inúmeras implicações para a saúde. Estudos indicam que o uso das redes sociais pode estar contribuindo para o aumento das preocupações com a imagem corporal e o agravamento dos transtornos alimentares entre os jovens, no entanto, este tema ainda não foi investigado adequadamente como uma questão de saúde pública global.
É crucial compreender que os transtornos alimentares frequentemente têm consequências fatais, e com um grande número de crianças e adolescentes interagindo nas redes sociais hoje em dia, os riscos podem ter implicações ao longo das gerações caso sejam negligenciados. A compreensão dos fatores que contribuem para essas condições patológicas permite que pesquisadores, pais, educadores, formuladores de políticas e profissionais de saúde ajam de forma proativa e preventiva.
Um recente estudo se propôs a mapear e revisar de forma abrangente a literatura global existente sobre a relação entre o uso das redes sociais, a percepção da imagem corporal e os transtornos alimentares em jovens com idades entre 10 e 24 anos. Uma pesquisa sistemática foi conduzida nas bases de dados MEDLINE, PsycINFO e Web of Science, abrangendo estudos sobre o uso das redes sociais e suas consequências na imagem corporal e nos transtornos alimentares, publicados entre janeiro de 2016 e julho de 2021. Os resultados relacionados às exposições (uso das redes sociais), desfechos (preocupações com a imagem corporal, transtornos alimentares e alimentação desordenada), mediadores e moderadores foram analisados utilizando um modelo teórico integrado que explora a influência da internet nas preocupações com a imagem corporal e na patologia alimentar.
Os resultados desse estudo, que incluiu evidências de 50 pesquisas realizadas em 17 países, indicaram que o uso das redes sociais está associado a preocupações com a imagem corporal, transtornos alimentares e problemas de saúde mental. Essas associações ocorrem por meio de mecanismos mediadores, como comparação social, internalização de ideais de magreza e objetificação do próprio corpo.
Além disso, três estudos transversais identificaram que plataformas de mídia social focadas na aparência, especialmente Instagram e Snapchat, estão correlacionadas de maneira significativa com preocupações sobre a imagem corporal, patologia nos transtornos alimentares, ansiedade e sintomas depressivos.
Outros fatores, como exposições específicas (como tendências de mídia social, conteúdo pró-transtorno alimentar e uso intensivo de fotos) e moderadores (como alto índice de massa corporal, gênero feminino e preocupações pré-existentes com a imagem corporal), intensificam essa relação, enquanto outros moderadores (como alto nível de conhecimento sobre mídias sociais e uma apreciação positiva do próprio corpo) atuam como fatores protetores, indicando a existência de um “ciclo de risco que se autoperpetua”.
Como conclusão, o estudo apontou que o uso das redes sociais representa um fator de risco plausível para o desenvolvimento de transtornos alimentares, e os achados de pesquisas na Ásia sugerem que essa associação não está restrita a culturas tradicionalmente ocidentais. Dado o alcance massivo das redes sociais entre os jovens, essa questão merece uma atenção especial como um problema emergente de saúde pública global.
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