Rússia veta ação da ONU contra guerra; Brasil vota com EUA

Voto ainda foi seguido por um discurso duro e inédito por parte do governo brasileiro

O Brasil votou contra a Rússia no Conselho de Segurança da ONU, num esforço de reposicionar o país diante dos ataques contra a Ucrânia e a pior crise de segurança internacional em décadas.

A decisão do Itamaraty de apoiar a resolução apresentada pelo governo dos EUA ocorreu depois de dias de indefinição no Palácio do Planalto sobre como o Brasil se posicionaria, principalmente após Jair Bolsonaro ser recebido por Vladimir Putin, um dos poucos líderes internacionais a abrir suas portas ao brasileiro.

O voto ainda foi seguido por um discurso duro e inédito por parte do governo brasileiro, sugerindo uma mudança na postura do país em relação aos atos russos na Ucrânia.

A guerra, de fato, abriu uma crise dentro do governo sobre quem teria o papel de formular a política externa brasileira. A ala mais radical do bolsonarismo estava incomodada com a postura do Itamaraty.

Veto russo impede aprovação e abre críticas
Com o Conselho sendo presidido pela Rússia neste momento e com o poder de veto do Kremlin, a resolução não foi aprovada e Moscou impediu que uma decisão fosse adotada. O resultado terminou com onze votos a favor e um voto contra, o da Rússia. China, Índia e Emirados Árabes Unidos se abstiveram.

Na resolução, a Rússia era colocada como a responsável pela crise e sua operação foi classificada como “ato de agressão”. O documento condenava a agressão e a reafirmava a soberania da Ucrânia. A resolução ainda demandava a Rússia a imediatamente retirar forças do território ucraniano.

Mas a atitude do governo russo de impedir a aprovação do texto abriu uma onda de críticas por parte de países que acusaram o Kremlin de abusar de seu veto. Brasil e outros ainda alertaram sobre o risco de que o Conselho de Segurança caia em uma profunda irrelevância.

Troca de farpas
O encontro ainda foi marcado por uma intensa troca de farpas entre governos. Para a delegação russa, o documento submetido à votação não era equilibrado e um país como os EUA, com vários episódios de invasões de territórios, “não estava em posição de dar aulas de moral”. Segundo Moscou, é o governo de Kiev quem ataca populações do Leste do país, promove um golpe de estado, viola acordos de Minsk e dá apoio para que milícias neonazistas ataquem civis.

Num discurso ofensivo, a diplomacia russa acusou o Ocidente e a imprensa de manipulação e denunciou as forças ucranianas de estarem supostamente usando a população civil como escudo humano.

Por mais de duas horas, o Conselho em Nova Iorque se transformou num local de pressão internacional contra a Rússia e de tensão. A delegação ucraniana criticou o que chamou de “táticas nazistas” por parte do governo de Vladimir Putin, enquanto pediu um minuto de silêncio pelas vítimas e pela “salvação” do embaixador russo na sala. “Vocês estão loucos?”, criticou o diplomata, alertando para o caráter “diabólico” de Moscou.

Embaixadora dos EUA na ONU,
Linda Thomas-Greenfield

O discurso americano também mostrou a dimensão do mal-estar. “Foi a escolha da Rússia invadir seu vizinho e violar a Carta da ONU”, disse a embaixadora dos EUA, Linda Thomas-Greenfield. Segundo ela, o ataque “ameaça nosso sistema internacional e temos a obrigação solene de não virar o rosto”. “A história nos julgará por ações ou por falta de ação”, alertou a embaixadora.

“Esse é um voto simples. Vote sim para defender a Carta da ONU, o direito à soberania de qualquer país e se a Rússia deve ser responsabilizada por ações”, disse. Para ela, um voto negativo ou abstenção significa não apoiar a Carta da ONU.

Gabão, México, França, Albânia e Reino Unido também apoiaram o texto. “Há uma violação clara da Carta da ONU e uma agressão”, disse a delegação mexicana. “Sofremos quatro invasões. Duas pela França e duas pelos EUA. Só uma delas gerou a perda de metade de nosso território”, lembraram os latino-americanos.

Visivelmente decepcionado pelo resultado da votação, o secretário-geral da ONU, Antônio Guterres [foto à direita], destacou como nesta sexta-feira (25) sua entidade fracassou em atingir seu mandato. Mas ele insistiu em apelar para que as tropas russas “retornem para suas casernas”.

Comments

Be the first to comment on this article

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Go to TOP