E a nossa reputação de marca, Brasil?

Os últimos meses têm sido intensos para os gestores públicos. Cidades, regiões e países se debatem em ações para combater o avanço descomunal do vírus que alterou a vida do mundo inteiro.

Os últimos meses têm sido intensos para os gestores públicos. Cidades, regiões e países se debatem em ações para combater o avanço descomunal do vírus que alterou a vida do mundo inteiro. Os reflexos das decisões tomadas pelos nossos líderes implicam não só na saúde e na vida financeira das pessoas, mas também trazem consequências profundas nas reputações dos lugares.

Esses acontecimentos dão-se em um cenário de ampla competitividade entre territórios, que buscam atrair e fixar pessoas e investimentos para sobreviver ao colapso em curso. Embora conhecido timidamente na América do Sul e África, o marketing de territórios vem sendo utilizado como peça fundamental em muitos lugares para diminuir esses impactos, determinando vocações e criando alternativas planejadas para os lugares.

A crise do novo coronavírus é também um laboratório para aferir ações e impactos na imagem dos territórios. Em rede, assistimos quase simultaneamente as reações de combate à pandemia e somos incentivados, ainda que instintivamente, a comparar e julgar as intervenções dos governantes. Virtualmente estamos acompanhando uma pauta única há mais de três meses e adquirindo novas percepções de cada território.

A China é um exemplo claro de como a reputação pode ser alterada rapidamente. Epicentro da Covid-19, o país viu toda a atenção mundial voltada para a negatividade de suas primeiras ações, que vão desde a negação do vírus à tentativa de silenciar o médico que alertou para o problema. Posteriormente, o país agiu para diminuir os estragos, sendo solidário ao compartilhar suas experiências com outros países e enviando ajuda médica e de equipamentos para a Itália, por exemplo. Com essas ações, a China passou a ser vista com um outro olhar e saiu do foco negativo que gerou crise em sua imagem inicialmente.

Potência concorrente, os EUA assistem ao seu presidente lidar com grande incapacidade para resolver os problemas e de forma desastrosa – sob o prisma das reputações -prejudicando a imagem do país. Atitudes como a negação dos conhecimentos científicos, a rejeição do isolamentos social e a tentativa de agressão ao concorrente comercial ao se referir  ao novo coronavírus como “vírus chinês” foram mal recebidas pela opinião pública mundial e não excluíram o país de ser o líder em contaminação e mortes até o momento.

O Brasil segue o mesmo caminho estadunidense e tem colecionado ações que abalam imensamente a reputação do país. Aqui, a principal autoridade do país também minimizou a presença da pandemia, negou a ciência, deteriorou relações institucionais, transformou a doença em ativo político-eleitoral, confrontou princípios democráticos, tornou ingovernável o Ministério da Saúde, promoveu aglomerações em tempo de isolamento e, a cada dia, evidencia a falta de planejamento e capacidade de gestão frente à crise.

Embora ainda não haja consenso teórico na forma de mensurar a reputação de um lugar, é cada vez mais comum a ideia de que a imaterialidade e subjetividade ganham força entre as variáveis que compõem a análise. Portanto, todas essas condutas que estamos acompanhando são fragmentos que compõem o todo.

Sem dúvida, essa conta será cobrada na retomada futura do país. Temos hoje uma marca arranhada e com atributos negativos atados ao nome Brasil. O trabalho de limpar e reposicionar essa marca será um processo longo, delicado e dependente de cooperação de inúmeras instituições e das pessoas.

Para os gestores públicos é hora de decidir o que fazer com a crise. Existe a possibilidade de  sobreviver ou avançar em um cenário que precisará muito de resiliência, capacidade de gestão, aglutinação e cooperação entre atores do território e, claro, redescobrir vocações  e construir reputações novamente. Não tenho dúvidas que o futuro cobrará de todos.


Djan Hennemann é publicitário e mestre em planejamento de cidades.


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